terça-feira, 1 de novembro de 2011

Vestido branco de renda

Guardei atrás do meu peito de aço
os seios fartos de uma mãe-áfrica
dos que acalmam o primeiro choro
e derramam leite pelo Paissandu

Arranquei com as minhas mãos de peão
os cabelos de uma estudante virgem
das que usam meia-arrastão branca
e ocupam os telefones de toda a cidade

Cobri com os meus pelos escuros
a boca de uma vizinha miúda
das que chamam Edith ou Gertrude
e clamam sussurros por todo o cortiço

Escondi nas minhas rugas de macho
os olhos de uma bacante profana
das que carregam o tirso entre as pernas
e cavalgam nas trevas da Rua Augusta

Eu tenho um vestido branco de renda
guardado na gaveta do meu armário
Eu tenho mil mulheres diferentes
presas dentro do meu espelho

Artur Mattar

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